segunda-feira, outubro 16, 2006

Navio



Tenho a carne dorida

Do pousar de umas aves

Que não sei de onde são

Só sei que gostam de vida

Picada em meu coração.

Quando vêm, vêm suaves;

Partindo, tão gordas vão!

Como eu gosto de estar

Aqui na minha janela

A dar miolos às aves!

Ponho-me a olhar para o mar:

—Olha-me um navio sem rumo!

E, de vê-lo, dá-lhe a vela,

Ou sejam meus cílios tristes:

A ave e a nave, em resumo,

Aqui, na minha janela.
Vitorino Nemésio

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