terça-feira, julho 11, 2006

Six Feet Under - The End



O episódio final de Six Feet Under, ontem na 2. Ou a insustentável pequenez das nossas vidas. Enquanto jovem ainda, Claire conduz o seu carro rumo a um futuro incerto em Nova Iorque, mas o realizador omnipresente, como um deus sarcástico, mostra-nos a sua morte daí a umas dezenas de anos... e a de todos os seus familiares. Num espaço de um minuto, uma vida. A nossa vida - menos de uma fracção de segundo no tempo da eternidade. O outro dia a minha sobrinha de seis anos, perguntava-me o que era o infinito... «é como daqui ao céu, tia?». São as perguntas dos seis anos que acompanham-nos nesta fracção de segundo em que tudo acontece e tão grande parece quando está a acontecer.



Escrevo isto enquanto fumo um cigarro depois de ter lavado os dentes – um amigo meu diz que gosta da sensação. A melhor amiga da minha mãe dizia que não havia melhor cigarro que aquele depois de um banho de mar. O Colombo, nas Asas do Desejo de Wenders, explica a um anjo como é bom um café acompanhado de um cigarro. Valha-nos os pequenos prazeres, ainda que impuros e apesar das campanhas. Ainda que apressem o nosso caminho para o inevitável. Valha-nos o cigarrinho no meio desta insignificância, desta permanente insegurança, sempre vivi na certeza que a vida e a morte estão separadas por uma pequena linha que nos acompanha sempre, como a linha amarela traçada no chão das estações de metropolotino: para lá daquela linha, cai-se no abismo. Alívio? Medo?



Atravessamos anos (uns mais que outros) sempre ao lado dessa linha invisível, e vamos-nos cruzando uns e outros por aí. Por acaso. Por um bater de asas de uma qualquer borboleta em Tokyo. Não há destinos traçados, não há coincidências reconfortantes. É o que é. Calha assim, ou calha de um outro modo, no aleatório capricho de um deus tão menor quanto nós. Ah ! tu e eu somos tão próximos hoje mas amanhã, quem sabe, eu vou falhar-te ou tu vais falhar-me, tudo se reveste de uma estranha neblina míope e deixamos de ver as certezas que sentíamos quando num outro tempo perguntávamos a uma tia que seria para todo o sempre só nossa, o que era o infinito.

1 comentário:

Carocha disse...

és genial e gosto muito de ti.
e isso é para sempre.