domingo, dezembro 03, 2006

conheceu-o quando tinha o andar ligeiro e o coração leve de preocupações, cedo se apaixonaram, sentiu na altura que trocara o seu mundo por outro maior, começaram a namorar e, dois anos depois, quando terminaram os respectivos cursos trocaram os votos.
a vida decorrera sem preocupações de maior, sempre nos carris da normalidade: emprego, casa, filhos, casa de férias, festas de família.
dezassete anos voaram assim.
naquele dia estava com ele no supermercado a abastecer a casa de mantimentos necessários, perguntou-lhe que legumes queria comer, ele respondeu enfastiado, desinteressado, como se estivesse sob tortura, que tanto fazia. ela olhou-o nos olhos, sentiu-se vexada, mal reconheceu aquele homem que foi em tempos o seu tudo, o que muitos procuram e poucos encontram.
no caminho para casa, ao ligar a ignição do carro, com o marido mudo ao lado, olhou-se ao espelho, viu a sua cara sulcada por algumas rugas, olheiras pronunciadas e uma tristeza misturada com cansaço. perguntou-se onde se tinham perdido, onde ficara a rapariga encantadora, sensual e alegre, onde estava o rapaz atento, presente, de outrora.
a vida contém armadilhas nos constantes afazeres do quotidiano, tantas, que se esquecera de tratar de si.
já o carro deslizava suavemente pela estrada quando ela respirou fundo, decidiu deixar as compras em casa, avisar o marido e os filhos que nesse fim-de-semana não contassem com ela.
não podia negligenciar-se mais, o resto, iria improvisar pelo caminho.

Sem comentários: