quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Passagem dos amantes justiçados

Nós somos como a urina do primeiro mês de outubro




propala-se não cria




pega-se não se desenvolve


*


O que temos para um crime não é essa matéria



com que alguns varredores limpam os cadafalsos




«morre jovem o que os deuses amam»




«não há estrada no mundo ó céus para estes»



e outras frases também invenção da polícia



para não deixar beijar a sério ninguém



*



O que temos para um crime é o nosso sangue



de animais quadripétalos convexos simples



entregues pela frota dos normais aos homens de rosto súplice



e sofrendo nos pés a imensa massa líquida oceânica



*


Nós somos como a árvore mais jovem



que todo o ano precisa ser cuidada



*

Mortos vamos e expulsos e incriados



Mas é em nós que os planetas e os mais corpos do espaço



molham as mãos



e esmagam a cabeça











Mário Cesariny; (1923) Pena Capital

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