Nós somos como a urina do primeiro mês de outubro
propala-se não cria
pega-se não se desenvolve
*
O que temos para um crime não é essa matéria
com que alguns varredores limpam os cadafalsos
«morre jovem o que os deuses amam»
«não há estrada no mundo ó céus para estes»
e outras frases também invenção da polícia
para não deixar beijar a sério ninguém
*
O que temos para um crime é o nosso sangue
de animais quadripétalos convexos simples
entregues pela frota dos normais aos homens de rosto súplice
e sofrendo nos pés a imensa massa líquida oceânica
*
Nós somos como a árvore mais jovem
que todo o ano precisa ser cuidada
*
Mortos vamos e expulsos e incriados
Mas é em nós que os planetas e os mais corpos do espaço
molham as mãos
e esmagam a cabeça
Mário Cesariny; (1923) Pena Capital
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